Pediplanos e Inselbergs na Bahia

 Apontamentos do texto: 

Inselbergs e sua Origem no semi-árido 



Dominio morfoclimático: conjunto de formas de relevo submetidas a mesma tipologia climática.

Origem do semi-árido nordestino: Na era mesozóica superior ( período cretácio), há 135 MA, quando o continente Godwana fraturou-se, teve inicio a aridez na America do Sul e na Africa.

Caracterização do dominio morfoclimático semi-arido baiano:
  • temperaturas médias entre 25º e 29º -> alto nível de evaporação
  • precipitação média anual de 650mm -> torrencial e má distribuida
  • alta variabilidade climática -> ocorrência de eventos extremos de seca
  • intermitência na hidrografia
  • solos rasos e pedregosos  
  • tipologias morfológicas: 
    • depressão sertaneja composta por pediplanos;
    • relevos residuais composto por inselbergs
 

Inselbergs: ilhas de rochas que evoluiram em função da esfoliação esferoidal, tipo de erosão específica de climas secos. São relevos residuais, resistentes as ações intempericas e erosivas, devido a erosão diferencial de rochas mais resistentes.





 
Esfoliação Esferoidal: causada pelas amplitudes térmicas diárias,  na qual durante o dia os minerais sofrem dilatação e durante a noite, contração; ocasionando desagregação mecânica das rochas.


Pediplanos: relevos aplainados com formas residuais. Sua formação se dá através do recuo paralelo das vertentes resultantes da esfoliação esferoidal.

Tálus: são areas de deposição logo abaixo da escarpa rochosa em que houve solapamento das vertentes. detritos de maior calibre

Pedimentos:  áreas de acumulação de sedimentos.

Bajadas: relevos mais baixos encontrados em áreas circunvizinhas aos inselbergs. Podem acumular água na estação chuvosa formando lagoas, e acumulam bolsões de pedimentos originando áreas aplainadas.

Depressões periféricas e Interplanálticas: formas com superfície erosiva plana e arrasada submetidas ao processo de sedimentação.

Depressão sertaneja: local de depósito dos pedimentos que compõe os pediplanos. Com formação iniciada há 1,6 MA no final do Terciário e inicio do Quaternário. Formados sobre escudos cristalinos de origem ignea/metamórfica ( cráton de São Francisco).


Processo de Formação dos pediplanos no nordeste:

 "Ocorreram muitas alternâncias entre períodos secos e úmidos, associadas às glaciações,  no   decorrer do tempo geológico, mais especificamente durante o Pleistoceno (Quaternário).  Esses ciclos morfoclimáticos foram grandes responsáveis  pela modificação  dos níveis de pediplanação, ou seja, dos níveis de base da região nordestina."

"Quando  se  inicia  um  período  glacial  como  o  Gunz  (590.000  anos), Mindel  (476.000  anos),  Riss  (230.000  anos)  e  Würn  (70.000  anos),  se  inicia também  um  longo  período  semi-árido,  pelo  fato  de  a maior  parte  da  umidade do planeta  ser  proveniente  dos  oceanos,  que  em fases  de  glaciações, diminui quase  em  toda  totalidade  a  evaporação  de  água,  havendo  substituição  da chuva  por  precipitações  em  forma  de  neve,  que  se  acumulam  nas  calotas polares  e  expandem-se  para  os  hemisférios;  ocasionando  desta  forma  o eustatismo  negativo,  ou  seja,  regressão  marinha,  por  conta  do  congelamento de águas oceânicas. "

"São  nos  períodos  glaciais  que  o  processo  de  pediplanação  torna-se mais intenso, o qual afirma o importante papel da aridez para a modelagem de feições  de  relevo.  Por  conta  da  existência  de  alta pressão  ocasionada  pelo deslocamento dos centros anticiclonais tropicais para menores latitudes, há um impedimento  da  ascensão  de  ar  úmido,  não  havendo  assim  precipitação pluviométrica,   deixando   o   clima   seco,   semi-árido/árido   em   toda   faixa intertropical (CASSETI, 1994)."

Estudo dos Inselbergs na Bahia:

 Os  inselbergs  do  Semi-árido  baiano  começaram  a  ser  estudados  em 1995    pelo    projeto Flora   dos inselbergs,    desenvolvido    pela    UEFS (Universidade  Estadual  de  Feira  de  Santana),  inicialmente  na  cidade  de Milagres-BA,  expandindo-se  para  as  cidades  de  Santa   Teresinha,  Itaberaba  e na  região  de  Feira  de  Santana,  todos  municípios  baianos.  Esse  projeto
registrou  cerca  de  600  espécies  de  plantas,  como  a Jurema  ou  Jerema, Catingueira, cactiformes  e  o  Cansanção,  a  família  da  acerola  e  algumas espécies de flores  que  cobrem  e  embelezam  o  lajedo.  Além  das Cabeças-de-frade e de Xiquexiques, que predominam sobre esses inselbergues (FRANÇA, 1997).

Apontamentos do texto:

 Gênese da superfície erosiva em ambiente semiárido - Milagres/BA: considerações preliminares.


Existe uma diversidade de teorias que tentam explicar a gênese das superfícies de aplainamento, isto é, como os processos erosivos podem formar superfícies planas ou quase planas arrasando com o relevo das regiões. Essas teorias podem ser agrupadas em dois grandes grupos de modelos teóricos: os climáticos, como os propostos por King em 1953, Büdel (1957, 1982) e Millot  (1977,  1983); e os estruturais.

King, geomorfólogo sul-africano, ao visitar o Brasil em 1956, identificou cinco ciclos de aplainamento:
  • Ciclo  Gondwana; 
  • Ciclo  Pós-Gondwana; 
  • Ciclo  Sul  americano;  
  • Ciclo  Velhas  
  • Ciclo Paraguaçu
  O modelo de KING - Teoria da pediplanação 

"propõe que os aplainamentos ocorrem em regiões que, além de estarem submetidas a condições de relativa calmaria tectônica, estão submetidas também a condições climáticas com tendência a aridez ou semi-aridez. O processo de gênese de uma nova  superfície  aplainada  teria  início com  uma  incisão  fluvial em  razão  de  soerguimentos  tectônicos ou rompimentos de níveis de base. Após a dissecação/encaixamento da rede de drenagem, inicia-se o trabalho de alargamento destes vales fluviais e de retração lateral das vertentes. Estas vertentes teriam sua  cota  de  topo  preservada,  pois  seria  o  fluxo  pluvial  escoando  pelas  laterais  íngremes  das  mesmas que teriam energia suficiente para erodi-las (King, 1953). O processo de retração lateral das vertentes tem, por conseqüência, o acúmulo de material detrítico na base das mesmas. Esse material detrítico se acumulará  na  forma  de  rampas  suaves  que  se  estendem  da  base  das  vertentes  em  direção  aos  leitos fluviais e são denominadas de pedimentos. A perpetuação das condições de aridez do clima favorecerá a  coalescência  desses  pedimentos  e  a  formação  de  ampla  superfície  aplainada  denominada  de pediplano.  No  interior  dos  pediplanos  se  formariam  pequenas  depressões  onde  se  acumulariam  sais. Estas  depressões  são  denominadas  de  playas.  Por  fim,  alguns  relevos  residuais  sobreviveriam  ao processo de aplainamento. Estes morros testemunhos são denominados de inselbergs. O resultado final no  relevo  é  a  formação  de  duas  superfícies  de  aplainamento  de  idades  diferentes.  A  mais  nova  com menor cota e a mais antiga preservada no topo dos inselbergs que resistiram ao processo de formação da  nova  superfície.  Uma  nova  incisão  daria  início  ao  processo  novamente,  culminando  com  a formação de três superfícies de aplainamento."

  • gênese dos aplainamentos: condições aridas ou semi-áridas
  • inicio: incisão fluvial: soerguimento tectonico ou rompimento do nível da base
  • processo: (I) retração lateral das vertentes e formação de pedimentos; (II) coalescência dos pedimentos e formação dos pediplanos


Modelo de BUDEL - Teoria da Etchpalação

"Propôs que as superfícies aplainadas seriam formadas  pela erosão parcial ou total de um espesso manto de  alteração  que  recobriria uma  superfície  basal de  intemperismo.  Isto ocorreria  através  da  conjunção  de  dois  fatores:  relativa  quietude  tectônica  e  existência  de  condições climáticas  tropicais  semi-úmidas."

" Neste contexto, uma importante colaboração de Büdel (1957, 1977) é o reconhecimento de que sob condições de aridez ou semi-aridez, a erosão mecânica não teria condições de  arrasar  amplas  regiões,  pois  se  os  sedimentos  não  são  produzidos  pelo  intemperismo  químico,  a erosão  mecânica  fica  pouco  potente.  Logo,  para  Büdel  (1977)  regiões  que  não possuem  essas condições   climáticas,   mas   apresentam   modelados   aplainados,   não   tiveram   seus   aplainamentos formados    nas    atuais    condições    climáticas,    ou    seja,    no    passado    apresentaram    condições paleoambientais semi-úmidas."
  • gênese dos aplainamentos: condições semi-úmidas -> intemperismo quimico e erosão mecânica
  • mudança climática devido as sucessivas estações seca e chuvosa
  •  processo : mecanismo duplo front -> (I)  superfície exumada de lavagem (washing surface) e; (II) superfície basal de intemperismo (leaching surface) 

Modelo de MILLOT

 "relaciona os aplainamentos a regiões onde ocorreram mudanças climáticas que tornaram o clima menos úmido, geralmente de tropical semi-úmido para árido ou semi-árido.  Para  esta  teoria,  a  gênese dos  aplainamentos  estaria  na  sucessão  de  climas  ao  longo  do  tempo geológico, e não, conforme previsto na teoria da etchplanação (BÜDEL,1957, 1977), na sucessão de estações  ao  longo  do  ano."

"o relevo só será aplainado pela sucessão de climas, sendo que, os climas úmidos são responsáveis por “preparar” material para que, nos climas secos, a erosão mecânica aplaine o relevo."
  • gênese dos aplainamentos: condições semi-úmidas
  • processo:  (I) intemperismo   da   rocha   fresca   em   subsuperfície;   (II)   transformação   pedogenética   do   material anteriormente   alterado   e;   (III)   erosão   superficial.


Caracteristicas geoambientais de Milagres 


Municipio de Milagres:
  • microrregião de Jequié e mesorregião do Centro-Sul baiano
  • clima semiárido com temperatura média anual de 23,1º
  • precipitações médias de 481mm e chuvas concentradas entre novembro a abril
  • litologia do pre-cambriano com gnaisses, migmatitos e intusões de granitos
  • Solos pouco desenvolvidos: planossolos, neossolos, latossolos, e solos pzolólicos
  • Inserido no pediplano sertanejo - áreas planas com inselbergs
  • sitio corresponde a uma depressão intermontana
  • inserido entre as bacias hidrograficas do rio Paraguaçu e Alto Jequiriça
  • altitude mais elevada do municipios: em torno de 600m
  • area do planalto possui altitudes em torno de 440m e vai se elevando em direão ao sul
 Modelado de Milagres:
  • formas: inselbergs, morros residuais (arredondados sem vegetação),  cristas agudas ou arredondadas, lajedos, rebordo de planalto.
  • no atual sistema morfoclimático, são as chuvas torrenciais (trovoadas) o fator preponderante de evolução da morfologia da área.  


De acordo com a Teria de King, a paisagem de Milagres na Bahia corresponde a uma ampla superfície aplainada entrecortada por relevos residuais formada no Ciclo Paraguaçu. "No entanto, algumas questões e  formas tornam difícil aceitar que a região de Milagres/BA tenha sido formada através de processos de pediplanação.": 
  • sobre a real possibilidade da erosão mecânica em clima árido ou semi-árido remover grandes quantidades de material, como constata Budel.
  • os relevos residuais de Milagres  apresentam grau de arredondamento significativo
  • os relevos residuais de Milagres são ricos em cavidades
  • dentre as três teorias, numa análise preliminar, a de Millot parece ser a mais adequada
" Ou seja,o clima pretérito realmente foi mais úmido, algo que pode ser deduzido pelas  formas  arredondadas  dos  relevos  residuais  e  pelo  enorme  volume  de  material  erodido.  No entanto, este clima foi responsável apenas pelo primeiro estágio de aplainamento. Foi a intensa erosão mecânica,  agindo  conforme  descreveram  Byran  em  1922  (1976) e  King  (1953),  que  removeu  o espesso manto de alteração e aplainou a paisagem.  Logo, a paisagem de Milagres/BA seria resultado da intercalação de climas mais úmidos com climas mais secos."

"No  presente  trabalho  foi  realizado  uma  análise  dedutiva  e  preliminar  da  aplicabilidade  de
modelos  teóricos  com  cunho  climático  na  explicação  da  gênese  da  paisagem  de  Milagres/BA.  Esta análise demonstrou que, a princípio, o melhor modelo para explicar a formação de tal paisagem é o de Millot (1977, 1983). No entanto, tal verificação é apenas um primeiro passo. Qualquer conclusão deve ser  embasada  em  estudos  mais  aprofundados,  sobretudo  de  pedogênese  para  verificar  se  os  solos  da região  guardam registro de paleoclimas mais  úmidos. Logo, a  principal contribuição deste  trabalho é demonstrar  que  as  observações  de  King  (1956)  podem  e  devem  ser  contestadas  O  avanço  da geomorfologia nos últimos cinqüenta anos -novas teorias e novos métodos laboratoriais e de análise - permitem e praticamente obrigam a atual geração de geomorfólogos brasileiros a realizarem tal tarefa."



REFERÊNCIAS:


CERQUEIRA, M.O; OLIVEIRA, K.C.S; SOUZA, G.C. Inselbergs e sua origem no semiárido baiano. 
SANTOS, J.M.; SALGADO, A.A.R. Gênese da superfície erosiva  em ambiente semi-árido - Milagre/BA: considerações preliminares. Revista de Geografia. UFPE –DCG/NAPA, v. especial VIII SINAGEO, n. 1, Set. 2010

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