Sujeito Periferico em São Paulo e cultura

Os anos 1990, 2000, e as Periferias em São Paulo



1) OS ANOS 1990

 Sobre o Sujeito Periférico:
 "Calcados na historicidade de atributos estigmatizantes e formulados quase sempre fora dos  bairros  populares,  seus  moradores  começaram  a  construir  novas  formulações  sobre  si mesmo  e  sobre  sua  posição  no  mundo.  Dessa  forma,  uma  nova  subjetividade  se  forma  na periferia,   sobretudo   entre   os   jovens,   enfatizando   o orgulho de   sua   condição   e   as  potencialidades
dessa  condição.  Esta  tese  conceitua  como sujeito  periférico o  morador  da periferia que passa a atuar politicamente a partir de sua condição e orgulhoso dela. Ou  seja,  a  posse  do  orgulho periférico é  a  expressão  da  existência  de  uma  nova subjetividade.  No  entanto,  a  transformação  em sujeito  periférico só  ocorre  quando  essa subjetividade é utilizada politicamente, com organização coletiva e ações públicas."

Três influencias:
  • Os coletivos artisticos: a musica, principalmente o rap. A narrativa da população periferica narrada pelos racionais Mc.
  • A atuação do  PCC: monopolio das atividades ilegais, imposição da ordem, normas e condutas
  • Crescimento das igrejas evangélicas: etica regulatoria, a sobrevivencia no contexto de violencia


" A   partir   da   década   de   1980,   o   denominado   “encarceramento   em   massa” (WACQUANT, 2008; WACQUANT, 2001) passa a ser um fenômeno mundial, colocando a questão  no  centro  de  importantes  debates  sociológicos  (GARLAND,  1999;  MILLER  & ROSE,  2008).  Nos  Estados  Unidos,  o  rap  passa  a  ser  o  porta-voz  das  populações  mais afetadas  pela  onda  punitiva,  ou  seja,  negros  e  pobres.  No  Brasil,  começa  a  ocorrer  o  mesmo fenômeno  de  aumento  da  população  carcerária  e,  do  mesmo  modo,  o  movimento  hip-hop, mais  especificamente  em  sua  vertente  musical,  o  rap,  denuncia  e  dá  visibilidade  ao  drama  dessa  população.  De  certo  modo,  existem  “afinidades  eletivas”  entre  o  discurso  ético-normativo  presente  no  rap  em  geral  e  o  ordenamento  social,  também  ético-normativo, proposto e induzido pelo PCC nas periferias da cidade de São Paulo."

"Onde aportou, o rap foi apropriado e transfigurado segundo as idiossincrasias sociais e culturais dos polos receptivos. No entanto, e em todos eles, o rap se instalou entre as classes desfavorecidas. Aos poucos foi instituído como gênero musical que representa os pobres. Faz-se  importante  notar  como  em  bairros  populares  de  variados  países  o  rap  passou  a  expressar um importante e inédito processo de transnacionalização por baixo de um gênero musical que passou  a  ser  considerado  como  a  própria voz dos  pobres  de  todo  o  mundo,  independente  de sua  nacionalidade.  Em  nenhum  momento  da  história  da  música  um  gênero  alcançou  tal potencialidade  a  ponto  de  ser  considerado,  de  maneira  metafórica,  como  expressão  de  uma pátria denominada pobreza, independente dos limites geográficos e territoriais. 
Essa  transnacionalidade  da  pobreza  por  meio  do  rap  pode  ser  atestada em  vários exemplos:  em  países  islâmicos  da  África,  onde  o MC  é  considerado  o  profeta  da  atualidade, tendo uma missão e utilizando fundamentos baseados no Alcorão. Também se apresenta no expresso  Cátia-Petare, na  Venezuela  e  no  rap  denunciador  da  ostentação  da  burguesia  da Coreia  do  Sul.  Faz-se   presente  no  rap  aymara,  cantado  pelos  jovens  habitantes  de  El  Alto, nos  subúrbios  de  La  Paz,  na  Bolívia e  na  fala  de  um jovem rapper de  Clichy-Sous-Bois, subúrbios    de    Paris,    na    França,    que    afirma:    “nós    queremos    tomar    a    palavra”. Transnacionalidade da pobreza que também se observa no rap cubano, salpicado de elementos musicais da ilha e no Mali, onde se afirma que: “no rap as pessoas escutam o que está sendo dito”

"A partir do ano de 1993, as taxas de homicídios na cidade de São Paulo passam a subir atingindo níveis alarmantes. O pico nessa taxa ocorre entre os anos 1997 e 1999, passando a decair levemente até 2004 e de maneira acentuada até 2011."
 
"Em meados da década de 1990, bairros da zona sul de São Paulo possuíam índices de assassinatos equiparáveis às regiões mais violentas da Colômbia ou de países em guerra civil. Nessa  época,  o  bairro  do  Jardim  Ângela  é  considerado  o  mais  violento  do  mundo  e, juntamente  aos  bairros  do Jardim  São  Luís  e  o  Capão  Redondo,  conformam  o  que  se denominou  “triângulo  da  morte”,  onde  qualquer  desavença  corriqueira  resultava  em  morte para além dos conflitos entre traficantes e destes com a polícia. Configurava-se um cenário de total esgarçamento do tecido social, com baixos índices de confiabilidade nas redes sociais de vizinhança."


2) OS ANOS 2000


"Ao longo da década de 2000, o cenário das periferias urbanas se altera muito. De um lado,  as  redes  urbanas  se  universalizaram  por  toda  a  região  e  também  os  equipamentos  de saúde  e  educação  se  estenderam.    Em  que  pese  problemas  de  qualidade  e  descontinuidades territoriais,  os  indicadores  sociais  melhoraram,  conforme  pode  ser  atestado  por  várias pesquisas  realizadas  pelo  cientista  político  Eduardo  Marques,  do  Centro  de  Estudos  da Metrópole  (CEM)  em  São  Paulo.  Por  outro  lado,  conforme  discute  a  socióloga  Vera  Telles (2006; 2012), os grandes equipamentos de consumo chegaram até as mais distantes regiões da cidade, de modo que os shoppings centers e os grandes supermercados passaram a compor o cenário  urbano  desses  lugares,  ao  mesmo  tempo  em que  se  multiplicaram  o  que  a  literatura chama de novas centralidades, agora situadas em regiões onde antes apenas existiam moradias precárias  e  as  tradicionais  atividades  de  sobrevivência."

D'andreia. T.P; A formação de sujeitos perifericos: cultura e politica na periferia de São Paulo. Dissertação. 2013. http://www.veratelles.net/wp-content/uploads/2013/07/TiarajuDAndrea-Forma%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3oSujeitosPeriferico.pdf

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